quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Fernando Gaspar


o meu trabalho desenvolve-se essencialmente a partir da exploração do traço, do desenho, mais do que da mancha ou da cor. a procura do essencial em gesto insistente, físico; depois vem a tinta sobre o carvão, coisa segunda, camada a camada, sobreposição, ora opaca ora transparente, que o oculta, que o revela. a interminável procura do mínimo e do todo, num impulso. linha.

assim se vai fazendo a obra, levando todos os seus vestígios, levando consigo todas as marcas que a construíram.

é obra em progresso, mais do que um qualquer lugar encontrado. por isso o meu trabalho deriva, retorna, não se repete nem mastiga. é um caminhar, um corpo sempre novo que desliza e tateia, se perde, por vezes cego, por vezes vidente.

as minhas obras não são sempre objetos de empatia fácil; nem tem que ser. nunca são planos lisos, nem exercícios dérmicos. por vezes há espessuras que a tinta e o traço silenciam. por isso escrevo sobre elas; para melhor as construir, as perceber, abrir.

muitas vezes são as palavras escritas, o seu princípio. é por lá que elas começam.

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